Sementes

Quando eu era menino, plantei no quintal de minha casa um pé de melancia, me lembro de como acompanhei passo a passo o crescimento e expansão de suas folhas. O pé de melancia foi crescendo e se espalhou por todo o quintal, então vi, do tamanho de uma azeitona a primeira "melanciazinha", fiquei muito feliz, e todos os dias eu olhava se ela havia crescido um pouco mais. O tempo passou e aquela pequena melancia  havia se tornado uma enorme melancia, me lembro do dia em que enfim a tirei do pé, minha mãe abriu e cortou para mim o primeiro pedaço, quando estava comendo, pude reparar dezenas de outras sementes dentro dela, fiquei admirado e pensei: "como uma sementinha tão pequenina como esta foi capaz de gerar algo tão grande quanto esta melancia?" . Para uma criança aquilo era um grande mistério, era algo incrível.

Vamos pensar um pouco sobre as sementes..

Quando olhamos para uma árvore ou uma flor o que geralmente nos chama atenção? a maioria das pessoas diriam que é seu tronco, seu tamanho, suas folhas ou seus frutos, no caso da flor, geralmente são suas cores, suas pétalas ou seu perfume, e nos esquecemos que tudo isso nasceu por intermédio de uma pequena semente que esta enterrada, sozinha e "morta".

Abrindo nossas bíblias (talvez nem precise) no texto de João 3:16 vimos o que Deus fez por nós, pecadores; enviou seu filho, que morreu em uma cruz para que nós pudéssemos ter vida. Sua morte nos trouxe vida. Depois de um verdadeiro encontro com Cristo, Paulo descreve em Gálatas que "já não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim" Se de fato, hoje, já não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim for uma realidade em nossas vidas, consecutivamente o Cristo que vive dentro de nós nos ensina a amar ao próximo com um amor sacrificial, pois Cristo nos amou de maneira sacrificial.

"tá , mas o que isto tem a ver? onde você que chegar? não estou entendendo"

É simples, em Marcos 16:15. Cristo nos ordena a pregar o evangelho a todos que estão perdidos, que estão "mortos". Porém, muitas vezes negligenciamos o chamado por medo de abrir mão de bens, de família ou da "liberdade", não estamos dispostos a sacrificar a nossa vida por amor ao próximo. Mas nos esquecemos que bens, diplomas, conhecimentos, tudo isso passará, e nada levaremos para o céu, tão somente as pessoas que ganhamos para Cristo (Mt: 6:19-20), te pergunto, onde está verdadeiramente o seu coração?

Se olharmos para o exemplo da semente, que está ali, esquecida, enterrada, sozinha, vemos que mesmo em meio a sua morte, vida foi gerada, uma linda arvore com muitos frutos. Assim deve ser nossa vida, muitas vezes, por amor a Cristo e as almas perdidas, estaremos sujeitos a morte, ao esquecimento, a renuncia de nossas vontades, mas juntamente com nossa "morte" vidas serão salvas.

Depois de um ano e meio servindo no campo missionário, pensei em desistir, senti falta da minha juventude, das minhas saídas com amigos, da minha liberdade, e em desabafo com um de meus alunos na Cristolândia compartilhei sobre meu pensamento de abandonar o ministério, ele fitou os olhos em mim, e com muito amor disse: "Andrei, não desista, eu preciso de você", e então eu entendi, entendi que para que outros possam viver vale a pena morrer, vale a pena ser aquela semente.

 Hoje, confesso que depois de anos, ainda não entendo perfeitamente como uma pequena semente poderia ter se tornado aquela melancia, mas tenho um vislumbre, quando olho pequenas pessoas, que com um pequeno gesto de amor e obediência dizem "eis-me aqui", e através dessas pessoas, grandes coisas acontecem.


Andrei Luccas.